Estética do filme

Editado por Com os pés na cabeça às 18:59

Proposta de Direção
O filme será rodado somente em locações, buscando uma caracterização dos espaços próxima a sua realidade. A proposta é filmar a história exatamente no local que a inspirou: o município de Aiuruoca, MG.

A direção de arte trabalhará com a realidade encontrada nas locações escolhidas, fazendo pequenas intervenções de modo a prepará-las para a filmagem. Seguindo o mesmo pensamento, pretende-se filmar os próprios trabalhadores rurais no seu dia a dia. Porém, não é nenhuma proposta documental, uma vez que os trabalhadores estarão “atuando para a câmera” de acordo com a direção do curta-metragem.

A realidade do homem do campo será tratada de forma poética pela fotografia do filme, transmitindo climas e sensações através das imagens. Na cena da igreja, raios de luz que entram pelos vitrais darão um “ar divino” à situação. Nas cenas com os trabalhadores no campo, as paisagens serão filmadas com a tênue luz da manhã, resultando numa fotografia de contraste suave. Já na sequência da Quermesse, o universo infantil será representado através de uma saturação das cores, de brilhos e high-lights e de uma luz mais contrastada.

O ponto de vista da câmera igual ao do protagonista será um procedimento estilístico adotado em algumas cenas. Quase toda a primeira sequência, por exemplo, será vista a partir do olhar do protagonista. Neste momento, vêem-se somente os pés e sapatos dos personagens (filmados com câmera na mão), revelando literalmente a visão de Zeco. Se o personagem é louco por sapatos, inicia-se o filme mostrando somente os sapatos que ele tanto admira, a ponto de nem olhar para os rostos. O mesmo recurso refletirá a timidez do personagem que abaixa a cabeça sem coragem de encarar as pessoas. Zeco olhando o próprio pé será um plano recorrente no curta.

O aúdio do filme nem sempre será o equivalente ao som ambiente, dando destaque ao elemento em que o personagem fixa a sua atenção. Por exemplo, na cena da Igreja, o som do padre rezando a missa some e somente se escutam os passos de Clara passando em alto volume. Quando o personagem volta a si, o som fica congruente com a realidade.

Pretende-se trabalhar com atores e não-atores, aproveitando pessoas da região no elenco selecionadas através de testes. Haverá ensaios antes da filmagem, porém o diálogo escrito no roteiro poderá ser alterado mediante uma ação de improviso do ator, que terá o espaço livre para sugestões. A intenção é conseguir naturalidade e espontaneidade nas interpretações.

Enfim, o filme adotará uma linguagem narrativa clássica, fazendo uso de procedimentos que ajudam a enfatizar o tema descrito no roteiro, como os planos detalhes de sapatos e a visão do mundo através dos olhos do protagonista. Os cenários e as interpretações terão uma orientação naturalista, porém contando o tempo todo com a intervenção da direção de modo que a idéia original do roteiro seja transformada em imagens e sons.